Friday, May 18, 2007

História 3 - o caso dos corpos na estrada

Chegando em Oustdhorn eu vi uma dúzia de velhinhos na beira da estrada. Eles pediam comida desesperados, avançavam pro meio da estrada movimentada na esperança de que os carros parassem e alguém desse comida ou dinheiro. Mas a maioria diminuia a velocidade e desviava deles. E a minoria passava por cima mesmo. Na hora que eu tava passando tinha recém passado um caminhão que não parece ter usado o freio e acabou atropelando uns 5 velhinhos de uma vez. Foi horrível a cena. Diversos corpos atirados pelo chão. Sangue e membros espalhados. Estranhamente todos os outros carros continuaram passando sobre a meleca. Chegando no hotel eu perguntei ao concierge como é que aquela barbárie tinha acontecido sem causar espanto nos que estavam por perto, já que ninguém parou pra ajudar. A resposta dele foi lacônica: no fim do dia a patrola tira os restos. Sério, isso é mentira.

Monday, May 14, 2007

História 2 - Anjinho no Aeroporto

O aeroporto de São Paulo dava vergonha. Fila de uma hora pra passar na polícia federal. Pessoas desinformadas perdendo seus perfumes e desodorantes trazidos na bagagem de mão.

Enquanto aguardo na fila de embarque observo um homem deitado no chão de mármore fazendo um movimento de abrir e fechar os braços esticados, que eu conheço como movimento de anjinho na areia, e gemendo com timbre feminino de gata no cio. Fiquei em dúvida se era um caso médico ou de polícia. Meus parceiros de fila escolheram achar que era epilepsia e condenaram a forma displicente que os paramédicos cuidaram do caso. Eu preferi não mostrar que eu tava rindo pra fugir da condenação implícita dos futuros colegas de võo. Mas a minha versão do fato é que era uma bixa louca se contorcendo em busca de algum contato físico com paramédicos e enfermeiros.

História 1 - Limite Territorial

Pousei em Cape Town às dezessete. Às dezessete e trinta já tava no hotel Fountains. Às dezoito atravessei o lobi, observei a rua, a luz minguante de fim de dia e uma fonte no centro de uma rotatória. Avancei até a porta de vidro e dei três passos na calçada. Em quinze segundos três adolescentes me cercaram e proferiram palavras aparentemente ofensivas em língua xhosa. Dois deles circularam ao meu redor e um deles colocou a cabeça no meu peito como carneiro faz para enfrentar outro macho. Durou quatro segundos o ataque sem vítimas, que me desvencilhei dando três passos para trás. Observei os três seres humanos correndo na rua, saltando alegres, proferindo gritos de alegria hormonal descontrolada.

Sobre a África.

Foi ótimo. Tem fotos no flickr