Friday, June 13, 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Fato: Nove da manhã eu ajudei um cego a atravessar a rua e encontrar o Z Café, na Padre Chagas.

Antes disso eu vi ele batendo o nariz em um galho que invadia a calçada na diagonal, numa posição que sacaneou o poder de orientação da bengala.

Achei chocante.

Diferente de outros cegos que eu já tinha visto caminhando pela cidade, esse andava hesitante, com desconforto de quem não está acostumado com a falta de visão.

Fiquei imaginando as vezes que eu brinquei de cego e caminhei alguns passos de olhos fechados pra ver se eu seguia a reta. Lembrei da sensacão de perceber que se eu não abrisse os olhos nos próximos 5 passos haveria o risco muito grande de eu cair, bater, machucar. Lembrei que fotografar o ambiente com piscada inversa era o suficiente pra reorientar a caminhada cega por mais alguns poucos passos...

E voltei a pensar no cego batendo o nariz no galho e fazendo cara de quem estava decepcionado consigo mesmo... aquela expressão de tristeza... do tipo inconsolável, talvez acompanhada de impotência e resignação.... A cena me pegou de jeito.

Mas depois tentei pensar que esse tipo de problema humano não existe, que havia acontecido só porque o cara acordou num dia ruim, que o dia seguinte seria ótimo, que a sociedade tá certamente preparada pra dar todo o apoio pra esse e outros tipos de deficiência... mas esse pensamento não colou.

Foi bem melhor achar que aquilo era uma ação promocional do filme Ensaio Sobre a Cegueira, que em breve vai estar passando ali perto, no GNC Moinhos.

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