Tuesday, August 15, 2006

Pensamento socialmente (quase) egoista

Tenho me flagrado com bastante frequência pensando numa comparação que não é nova, mas que parece bem coerente, ou até óbvia. Tem a ver com a posição do Brasil no mundo e com a nossa posicão dentro dos dois. Explicarei com o meu caso, que também se aplica a maioria das pessoas que eu conheço.

Eu sou um brasileiro sortudo e um ser humano geograficamente azarado. Como brasileiro tive a sorte de nascer numa família que teve boas possibilidades de me dar ótimas condições de saúde, segurança, educação, conforto, cultura. Enfim, tive o suficiente pra crescer direitinho, pra ser feliz e ainda gozar de algum bônus. Me sinto um sujeito sortudo nessa ótica. Mas também me sinto um puta dum azarado de ter nascido dentro das fronteiras do Brasil. Os motivos estão na TV diariamente. E são reforçados quando a gente percebe que é renegado no mundo, que não tem o mesmo respeito nas fronteiras, que somos, de certa forma, os pobres que querem forçar a entrada.

Talvez isso seja um pensamento pequeno-burguês (lembrei dos Carbonários :), mas é a minha realidade.

O pensamento se torna relevante quando penso que a coisa pode apertar no Brasil. Quando leio as notícias, principalmente as que tem a ver com justiça e política, sinto que vai ser difícil o Brasil retomar a ORDEM. E nesse caso, se eu não quiser colocar a mão na massa, mudar de profissão e assumir uma postura de liderança, o que me restaria seria sair dessa fronteira e exercer minha profissão noutro lugar.

Ainda me pergunto como.

Friday, August 04, 2006

Sobre a vida normal em Beirute.

Anthony Bourdain é um jornalista do Travel Channel que foi fazer um programa de TV em Beirute. Seria algo sobre culinária, estilo e outras amenidades :) no padrão People&Arts. Ele pretendia mostrar como Beirute tava legal para o turismo, como tinha ruazinhas interessantes, cheias de estilo próprio, que representavam a personalidade de um país que sofreu anos com guerras e destruição e soube reconstruir a vida social.

Porém no dia que ele chegou foi quando começou o revide israelense. E ele não pode fazer o programa nem ir embora de lá porque os aeroportos foram fechados e suas pistas de pouso destruidas. Se não fosse isso ele nos mostraria porque Beirute era chamada de "Paris do oriente".

Essa é uma parte que acho interessante que copiei já traduzida do blog do Pedro Dória:

"De início, a festa não parou. Quem é de Beirute gosta de dizer (verdade ou não) que não deixaram de sair e festejar durante toda a Guerra Civil. Não era cool buscar abrigo quando havia um bombardeio. Nós ‘não devíamos nos preocupar. Todas as boates têm geradores próprios.’ Naquela noite, continuamos a gravar (e a beber muito) na festa de abertura do Sky Bar, agora em novo local, uma boate numa cobertura com vista para o Mediterrâneo. Gente endinheirada de Beirute – todos, parecia, eram jovens, sensuais e incrivelmente bonitos – bebia Red Bull com vodka e se mexia (se é que não dançava) conforme os jatos israelenses sobrevoavam ameaçadoramente baixos. Não fossem os caças, pareceria que estávamos em Los Angeles ou em South Beach, Flórida."

Sobre a incrível incapacidade humana de entender o significado de palavras que não são nativas da realidade de quem as usa.

Ontem, numa conversa, falei que o ataque das últimas 24horas do Hezbolá sobre Israel se resumiu a 200 mísseis. Falei isso em tom zombateiro, como uma forma de ilustrar o que eu penso sobre a guerra. Sobre a guerra ser mais para ver do que para sentir. Na lógica de que a TV mostra os piores fatos, os grandes bombardeios, as cenas mais cinematográficas, as fatias mais impressionantes. E quem está lá no pais em guerra não vive aquilo que a gente enxerga na TV.

Bom, essa noite foi diferente, pelo menos pra mim.

Certo momento eu tava em uma casa, um lugar muito bonito, perfeitamente decorado pra sentir como se tivesse em uma ilha, talvez vizinha à Ilha da Fantasia. Eu a a Martina estávamos na varanda e espiávamos para dentro da casa através dos janelões de vidro. Dentro parecia quente, muito aconchegante e estávamos prestes a entrar. Então vimos uma flecha cruzar o céu, longe, bem distante. então adivinhei que era um míssel. E depois veio outro e mais dois, riscando o céu em caminhos quase idénticos. Então eu tava numa lancha offshore curtindo a vida no paraíso. Por uma fresta vejo o painel de controle do barco, uma espécie de radar meteorológico e nele está um ponto em movimento na direção do centro radial. Me vejo ameaçado. Então corro para avisar e ordenar a fuga, corro para buscar a Martina, corro sem sair do lugar. Então enxergo o míssel com fuselagem branca e detalhes em vermelho em rasante sobre o mar azul escuro. Sei que ela tá rápido mas enxergo devagar, apesar do ponto de referência das montanhas. Percebo que ele está mesmo devagar e que eu estou também, que todo o mundo entrou em câmera lenta, numa velocidade que permitiria ao meu cérebro processar o que estava acontecendo e encontrar um plano de fuga. Então eu tava no proa sem chegar a conclusão alguma, sem entender por que um míssel está me perseguindo. Entre esse pensamento e outro foi como duas horas e senti minhas pernas moverem-se na velocidade das tartarugas fora dágua e abracei a Martina e falei pra ela que se vamos morrer vamos ver o lado bom. E vi a minha vida não como um filme, mas como uma sentença que dizia algo como "Parabéns pelos seus dias, me orgulho de você. Você foi um aprendiz que pode passar de fase" acompanhada de imagens que não se solidificaram sobre o convés. O míssel tava vindo e eu tava no controle da lancha. Manobrei uma curva fechada. A lancha tinha a desenvoltura de um caça e ao meu lado tava a instrutora de astrofísica aplicada a aviação, Charlotte Blackwood. Então eu tava de volta a ilha, no patio da casa, buscando lenha quando explodiu um cogumelo no horizonte. O alívio da última fuga sumiu e senti medo da sorte. Corri acompanhado de alguém para entrada da casa, que estava fechada. Pulei muros e encontrei outras pessoas correndo. Era noite e eu queria paz, queria dormir tranquilo. e outro míssel passou voando e caiu perto. E outro, e outro, eram dezenas e eu estava jogando batalha naval e correndo. Pulei uma cerca e senti areia no pé descalso, acendi a lanterna, a Martina gritou que não! E enxergo na beira da praia um grupo de fugitivos cubanos preparando uma balsa e um deles corre na minha direção. É um cachorro que pula e tenta me lamber e eu esquivo e ele some. E corro. E uma dúzia também corre. e o míssel tá chegando... de novo e de novo.

E o sonho continua tirando a minha paz, consumindo o tempo que tenho para descansar, estragando o prazer de não sentir nada. E acordo com a nítida impressão de que tudo foi um sussurro de alguém preocupado com a minha incapacidade de entender o que significa terrorismo.

Tuesday, August 01, 2006

narrow, shallow, sensational

Dizem que as previsões são uma forma de escrever o futuro. Esse vídeo enxerga até 2015, projeta o lançamento de um sistema chamado Epic. Vale ver. Porém dizem também que esse vídeo foi encomendado como uma peça viral pelo Google, pra aplicar na memória coletiva que no futuro são eles que vão vencer a batalha da conversão das mídias. :o