Monday, July 31, 2006

Agora entendi

Eu não tinha entendido nada dessa crise entre Israel e Líbano. Li e vi todas as notícias, mas estranho é que nenhuma traz a causa... porém hoje recebi um email de um amigo de lá que me explicou dum jeito que deu pra entender.

É ele me escrevendo:

"O fato é que Israel ficou puta da vida que o governo do Líbano não teve força suficiente pra controlar as ações do Hezbolá nos últimos tempos. Em rápidíssimas palavras (não sei se tu sabe) o Hezbolá é um grupo armado parecido com o que o Hamas é para os Palestinos, e um tanto parecido também com o Al Qaeda, que tu sabe bem o que é. Pra tu entender, o Hezbolá surgiu em 1982 pra defender a fronteira do Líbano de uma invasão israelense. 18 anos depois Israel cedeu e saiu daquela faixa que chama Fazenda de Cheeba. Dali em diante o Hezbolá assumiu função coadjuvante no país, saiu da mídia, mas não deixou de fortalecer sua milícia e continuou em crescente popularidade (eles são algo parecido com o que seria o MST, se os inimigos deles fossem, digamos, ao invés dos agricultores brasleiros, os argentinos). Bom, agora, nos últimos meses o primeiro ministro-israelense começou a enfrentar um problema de difícil solução que acabou revelando-se causado pela ação de guerrilha do Hezbolá. É estranho até de dizer,... mas o que acontece é que o primeiro ministro é viciado em comida árabe e o Hezbolá descobriu isso. Então eles usaram suas táticas de guerrilha pra impedir que suprimentos de kibe, Homus, folhas de hortelã, cebola, azeite de oliva e queijo de cabra chegassem a residência do cara. Ele, o primeiro ministro interino (desde que a cabeça do Ariel Sharon vazou), que se chama Ehud Olmert, sofreu uma crise de abstinência de derivados de grão de bico, que afetou suas faculdades mentais. Mas como ele é bem poderoso por aqui, ninguém foi capaz de retrucar o cara. A não ser a Condoleeza Rice e o presidente Bush, que já declararam ser contra os ataques. Mas como não deu muito certo o pedido americano, eles resolveram envolver a ONU na jogada, que prontamente providenciou a chegada de diversos aviões carregados de kibe cru, kibe frito pré-pronto, Homus, rolinho de repolho recheado com carne e bolinho de semolina com calda de flor de laranjeira. E por aí tá seguindo as negociações de paz.

Enfim, cara, essas crises diplomáticas, só estando bem perto pra entender... :("

Thursday, July 27, 2006

Um título qualquer pra marcar a presença de um ótimo texto anti hipsteria

Aimee Plumley é uma new yorker que odeia os pós-modernos-
bem-vestidos-instruidos-seguidores-de-uma-sub-cultura-original. Esse texto é um clássico dela (ela é o pseudônimo de Brian, um escritor de 25 anos) que exemplifica uma das coisas que incomoda no contato com modernos pretensiosos.

MAKING MUSIC MORE COMPLICATED THAN IT IS - A ROOFTOP SOMEWHERE IN GREENPOINT

John, 25, is a classical musician. Billy, whom John and I just met, is a hipster and a self-described 'musicologist.' John, a violinist, was educated at Juliard. I rarely ever get a chance to see him, but he happened to be free this night, and we happened to find ourselves at this house party, which was relatively hipster-free until we got to the roof. John's smart and handsome, but he's definitely not a hipster, and he doesn't like to tell people he's a violinist because he thinks it makes him seem dorky. Billy turns to us, his feeble little mop-head swinging languidly on his pale Midwestern neck, and slurps from his beercan. "You guys listen to music?" The tone is one of classic hipster faux-nonchalance, think James Dean thumbing his sideburns (gag), burping, smiling about something we don't know about, shaking his head. And this is chit-chat, this is back and forth, at least one would think so. But it's not, and I can already tell this isn't a question. This is a monologue; this is Billy's monologue, dressed up like a question. But John isn't a hipster. He doesn't have the pop culture burden that I have inexplicably gathered, one that allows me — that forces me — to differentiate between these 'types' of people. John's not cynical like me. Whereas I would have answered "No, I don't listen to music at all," John answers, enthused, "Yeah man, definitely!"
Billy's head swings again toward us, "Good, music's cool."
Billy's wearing a black T-shirt with a tear near the bottom, on the front it says "Dragons '86" in crumbling white silkscreen. He's wearing blue jeans and expensive diesel sneakers. He's got a 'tribal' tattoo on his right arm, which he's holding himself up with.
"Yeah, definitely," John says.
"So, what kinda music do you guys like?" Billy asks.
"Oh, I dunno," John says. "Rock I guess."
Billy sneers. He's getting warmed up.
"Cool man. Very cool," he says smiling. "So, ah, what kinda rock do you guys listen to?"
"Well, it's not just rock," John says. "I mean, I listen to all kinds of stuff. You know, a little of this, a little of that."
Billy switches arms. He's closing in on us, he's smiling.
"That's totally cool man, totally cool," Billy says.
"I guess so." John says, and looks at me, questioning. I shrug.
"So, like, what bands do you guys like?" Billy asks.
"Oh, uh, I like… well, hmm. I've been listening to all kinds of stuff lately. I like Radiohead."
Billy tries to look respectfully at John, but he can't. He's like dog taking a shit, once he's started, he can't stop. "Yeah, Kid A was alright," Billy says, his eyebrows raised in simulated empathy. "I mean, it was kind of a rip-off of Aphex Twin, but whatever."
"Um-hm," John says. But he's never heard of Aphex Twin, he's never heard of Kid A either, but he gathers it's some Radiohead song. "I dunno, I mostly hear them on the radio, so I don't really know any song names or anything. I like the guy's voice though."
"Oh yeah?" Billy asks. "Tom York, what a pud. I didn't know they put out any singles for that, since it was kind of avant. Fuck, I don’t listen to the radio, so I wouldn't know. I don't even have a TV."
"Oh yeah?" John asks.
"Yeah man," Billy says. "I'm kind of a musicologist."
"Oh, great!" John says. "So, uh, what kind of music do YOU listen to?"
"Shit man, I listen to everything. You guys listen to Emocore?"
"I dunno," John says. "What is that?"
"You ever hear of the Get Up Kids?"
"I don't know" John says.
"Oh, how about Death Cab For Cutie?"
"Nope." John says.
"Oh," Billy says. "Well, Emo is like, it's like Emotional, you know?"
"Like how do you mean?"
"Like, have you guys ever heard of Sunny Day Real Estate?"
"Don't think so," John says.
"Oh. Well Emo is like pretty hard stuff, with emotional lyrics."
"Oh." John says.
"Yeah, it's cool. You guys ever heard Jimmy Eat World?"
"I don't think so." John says.
"Shit man, what about At The Drive-In?"
"Nope" John says.
"Minor Threat?"
"Umm, I've heard of them."
"Embrace?"
"Nope."
"Hot Water Music?"
"No"
"Weezer?"
"Oh yeah!" John says. "Didn't they have that one video with the Happy Days thing?"
"I dunno." Billy says. "I don't watch TV."
"Oh yeah."
"Well, Emo is like pretty dynamic and shit. It's kinda like Indy rock, but it's more like Post-Punk, like Progressive and stuff."
"Hmm." John says.
"What about Rites of Spring?"
"Nope." John says.
"Yeah," Billy says. "Weezer's like the most commercial of the Emo bands, they're new album kinda sucks."
"Oh yeah?"
"Totally."
"They got that dude from that one group, you know that 80s band, The Cars?"
"Yeah," John says. "The Cars."
"Well they got that singer to produce this album and it totally sucks."
"Oh, too bad." John says.
"Yeah, but they sold out anyhow."
"Oh." John says.
There's a break in the conversation now; the three of us stare up at the sky. Billy's looking contented and ready to continue educating us about music.
"So shit man, you should check out some Emo dude," Billy says. "I guess you don't listen to music much huh?"
"Yeah. Maybe." John says.
"So like, what do you do anyway?"
"Oh," says John. "I'm a professional musician."

Monday, July 24, 2006

Pra Não Dizer que Não Falei dos Hipsters ou A Cultura do Falso Desapego às Pequenas Conquistas da Vida ou A Nova Vaidade Mais Velha Que a Vó Odila

Uau. Os hipsters. Será que é cool falar desse assunto? Hmmm, acho que não muito, que alguns assuntos são parte do espiral do silêncio natural que se forma no círculo de afirmação social. Mas também acho que entender esse termo ajuda a entender grande parte da sub-cultura que a gente adora. E como a gente se relaciona com ela. E como a gente faz parte da massa sem se sentir nela. E que isso não é ruim, é bem normal até. E que o Humberto Eco deve ter alguma razão quando se preocupa com o futuro e a pulverização do conhecimento informal. Mas que a razão não é de todo preocupante. Porque esse termo parece um antídoto que funciona pra quem acredita que identificar um problema é a solução em si. Pois a partir disso podemos aplicar boas doses de auto-ironia.

(Acho também que é divertido enxergar problemas como um questão/caminho interessante de ser resolvida/percorrido e não como um fator causador de transtorno)

Ahhh, pra saber mais pergunta pro oráculo.

flash mob. uma "busca" pra comprovar a facilidade de levar uma galera a desindividualização.

Bill Wasik é o cara que inventou os flash mob. Foi ele quem criou a conta fictícia de um hotmail qualquer, enviou para a sua caixa postal e dali para seus contatos internéticos. Foi em NY, onde ele é editor da revista Harpers. Diz ele que a idéia foi realizar uma experiência pra provar a falta de consistência da cultura contemporânea e a força da internet na desindividualização. Imagino que ele enxergou um vazio e quis brincar de ter poder. Fato é que andou um email pra 60 da sua lista que acharam superlegal a idéia e repassaram para outros tantos. No horário marcado um grupo grande tava lá e também no horário marcado o mesmo grupo saiu. As pessoas que estavam desavisadas no local não entenderam nada. E os participantes acharam superdivertido. A falta de senso fez sentido pros presentes: o sentido de se sentirem parte de um grupo restrito, o grupo dos que sabiam onde seria aquele evento, o grupo que só tem acesso por mérito de fazer parte da lista do fulano. Divertido, o evento tomou o mundo. Era superlegal ficar sabendo em tempo de estar presente no acontecimento. Muitos flash mob foram puxados por fotógrafos que documentaram momentos interessantes de pessoas fazendo algo estranho, num local público, exatamente ao mesmo tempo, sem explicação, coisas do tipo: se ajoelhar em frente ao um grande dinossauro de brinquedo numa loja de departamentos e entoar um salve. A cara dos desavisados devia causar boas risadas. Uns caras começaram teorizar seriamente sobre a coisa. Surgiu artista plástico pacas chamando eventos falhados que se propunham ser parte de um estudo sobre a efemeridade na arte. Mas eles tavam atrasados, tentando apenas, já fora da bolha divertida que passou. Enquanto isso o Bill, imagino, olhava o acontecer da invenção com uma vontade enorme de revelar a autoria e ganhar alguma glória extra. Diz ele que manteve segredo absoluto até há pouco tempo, quando reinvindicou a autoria. Interessante o fato e a força dele guardar a informação por tanto tempo. E, ao revelar, ser reconhecido (pelo menos uma capa da Ilustrada da Folha de SP). Engraçado também é que se você procura por referências dele, todas dizem algo como: Biwasik, o cara que inventou o flash mob. Mais engracado ainda é que ele tá ganhando as glórias por algo que foi justamente pra comprovar a superficialidade da cultura.

Isso porém não é uma novidade. É algo comum na história - o uso das massas. Um grande feito, de um grupo compenetrado, puxado por um líder carismático, seguido de posterior revelação de um interesse individual transfigurado em interesse comunitário. Fora uma lista enorme de guerras, revoluções e conquistas, existe o exemplo moroso da política atual e dos movimentos sociais. Triste comparação diária nos noticiosos. Interessante e divertido é a prova do embasamento do inventor do flash mob: de que o fenômeno da desindividualização também atinge quem é cool.

Carta aberta a RBS

O Hagah não funciona. Ponto.

Thursday, July 20, 2006

A Igualdade dos Gêneros aplicada a Gentileza. Um estudo da evolução da sociedade com foco na observação do uso dos sanitários.

Existem algumas coisas que tão sendo muito mal interpretadas na evolução da mulher na sociedade. Ao mesmo tempo que elas ganham o espaço merecido (diga-se: igualmente merecido) em todas as áreas que antes eram reservas do homens, inclui-se aí os prazers e outras liberdades que antes eram reprimidas, elas estão fazendo uma coisa que o homem costuma fazer muito (e deve ser condenada) e que pode ser representada por um ditado popular: deu a mão agora quer o braço. Isso aplicado em coisas cotidianas. As gentilezas, por exemplo. Algumas estão virando regras. Veja bem, dizem quando você vai ao banheiro é absolutamente condenável deixar a borda do vaso sanitário levantada. Pergunto-me por que? E, por estar fazendo aqui uma análise comportamental, deixarei de lado as argumentacões em relação a higiene, até porque eu concordaria com todas. Vamos a um exemplo: uma mulher chega na casa de cinco homens, vai ao banheiro que está com a tampa e borda levantadas, ela baixa a borda, usa para fazer xixi e sai do banheiro deixando a borda baixa. Ela vai em direção a um dos moradores (o mais íntimo dela, imagino) e sugere, em tom de professora de etiqueta, que seria educado da parte deles deixarem a borda baixa. Wrong! Wrong! Wrong! querida madame, responde ele. Aqui somos todos homens, usamos o banheiro para xixi e para cocô, mas a proporção de xixi é 7 vezes maior do que a de cocô, o que indica que 87,5% do uso daquele vaso sanitário, considerando que temos pênis, deve ser feito com a tampa e borda levantadas e que, por isso, a preferência do grupo é de manter a tampa levantada e baixá-la apenas quando forem usar em posição sentada. Conclui-se então que a mulher reclamou um direito que não é seu. Que ela pediu para ter preferência em um espaço que ela poderia estar oferecendo a gentileza.

O homem poderia dizer a ela que, na próxima vez que ela vier a casa deles, ele vai fazer o possível para se lembrar da preferência dela a borda baixa. E que em todos os outros ambientes que ele compartilhar o banheiro com mulheres ele fará o mesmo. E que ele vai considerar isso uma gentileza sua e que ele vai esperar que ela faça também a gentileza de entrar no revezamento que vai permitir ao home e a mulher uma igualdade amigável de vezes que um se incomoda com o fato de levantar ou baixar a borda.

Wednesday, July 19, 2006

Sobre a boa sensação que é sonhar e a relação disso com a hora de acordar.

Já escrevi sobre isso lá no dia 28 de junho, mas deu vontade de pensar no assunto de novo depois que vi o filme da Folgers e os anúncios que lembram aquele raciocínio.

O sonho é uma sensação bem estranha que as vezes deixa a gente se perguntando por que coisas tão absurdamente diferentes se juntam. E ainda que o esforço racional insista em juntar o isso com o aquilo de forma a fazer sentido, as vezes não faz sentido algum. Ao menos no nível da compreensão que aceitamos. Então desisti de caçar significados e passei a apreciar o significante. Compreendi que quando a gente se desapega da vontade de compreender o sonho ele passa a ser um companheiro muito interessante. Algo como uma TV a cabo particular, um HBO só meu que passa só o que quero ver ou então o que eu não quero ver. Não existe programação irrelevante no sonho. Talvez por isso é tão bom dormir. E talvez por isso que tem dias que é mais difícil acordar. Nessas manhãs preguiçosas geralmente o sonho é bom, tão bom que a gente não quer sair dele. Aí é legal pensar em alguma coisa boa da vida real. Parece ser um antídoto contra o sono. É algo como dizer pra vc mesmo que já viu aquele filme e tá na hora de captar algo novo pra usar na edição da noite seguinte. E deixar os neurônios couch-potato ocupados com a ansiedade pela próxima programação. Tem uns sonhos, porém, que são incrivelmente difíceis de sair. Um em especial vem sempre pra mim. Na verdade são sonhos completamente diferentes mas em todos eles eu estou voando. Vô em saltos, não com asas. Algo como uma junção dos saltos do Karas (assitente do Dr Gori, inimigo do Spectreman) + homem na lua + O Homem do Fundo do Mar + minha aulas de natação subaquática do tio zú + um pouco de lógica física + a observacão dos animais rastejantes + flúidos se comportam como flúidos. Enfim, é tão bom esse sonho. Nesses dias eu chego tarde no trabalho.

Monday, July 17, 2006

Desconhecido desenvolve método inusitado de se dar bem em família no sábado a noite.

Soube nesse sábado (fonte segura) de uma falcatrua que uma família inventou pra curtir um sábado de fartura. Vejam bem a criatividade do nosso povo, o senso de oportunidade, a esperteza, o famoso jeitinho brasileiro em ação.

Foi um casamento granfino num clube de Porto Alegre. Mais de 300 convidados. Tudo muito bem pensado para comemorar a união do casal em grande estilo antes da viagem de lua-de-mel pra europa. Enfim, puta festona, muito bem regada, muito bem servida, todos muito bem vestidos. Inclusive essa tal família, composta de pai, mãe, duas filhas e um filho.

Não perguntem-me como, ninguém sabe bem como, mas os cinco entraram no salão numa boa, sentaram numa boa e se misturaram aos convidados. A família da noiva achava que eles eram amigos do noivo e a família do noivo pensava o inverso.

Sem contratempos, eles comeram da entrada a sobremesa, aproveitaram cada uma das delícias, cantaram vivas aos noivos e dançaram felizes. Afinal, se não fossem a forra, como todos os outros convidados, ia dar na vista. Chegou o fim da festa e eles foram pra casa sem ninguém descobrir que eles era penetras.

O caso se tornou um caso quando, depois da lua-de-mel, os noivos começaram a reunir amigos pra contar da viagem, saber dos bafões da festa, mostrar as fotos... Devagarinho surgiu a dúvida de quem era aquele senhor? e aquela senhora? e aquelas crianças? ninguém sabia responder. Mesmo assim o fato ficou em segundo plano até que alguém implicou que aquela família devia ser muito próxima do noivo ou da noiva... que deviam ser amigos muito íntimos...? que a identidade secreta da família devia ser uma brincadeira que os noivos estavam sustentando...? ou, que diabos?... Afinal, como não saber quem tinha ficado com a responsabilidade de passar o chapéu que recolheu doações para a viagem?

Foi então que a a verdade pipocou: Não havia chapeu! Ao menos, não havia chapéu passado pelos noivos, nem pela família deles, nem por ninguém que eles conhecessem.

:o

Friday, July 14, 2006

Thursday, July 13, 2006

Erro fatal

A violência não fazia parte tão presente da vida da gente. Era mais coisa pra se ver do que pra sentir. Quando criança eu via a guerra Irã x Iraque na TV e pensava como aquele povo poderia viver no meio de tanta loucura e decadência. Soube depois - ou ao menos passei a acreditar - que as imagens que apareciam na TV eram pinçadas dos momentos de maior violência, eram fatias quase enganosas da realidade daquele país. Porque depois vi documentários que mostravam iranianos e iraquianos (cada um no seu país) indo a escola, ao escritório, fazendo compras, vivendo a vida normalmente, no mesmo território onde se via violência terrível. Foi estranho concluir que realidades distintas compartilhavam do mesmo espaço. Causou estranheza ver crianças com metralhadoras na mão, prédios cravejados, automóveis em chama e saber que nesse mesmo espaco tinha gente como a gente numa vida quase normal. De qualquer forma, isso era violencia pra mim. Uma coisa distante.

Por aqui o que me assustava era ter o meu Casio roubado na esquina da Fernandes Vieira com a Vasco da Gama, na volta do Rosário. Antes disso eu morava em Ijuí e nada me assustava. Bem, o bebê de rosemary me apavorava. Depois comecei a ouvir falar de sequestro, estupro, assalto com reféns, e um monte de outros crimes foram surgindo e se tornando mais presentes na mídia. Porém essa violência tava dentro da tela da TV e nos jornais, nos livros Olga e Brasil Nunca Mais e talvez no relato de um amigo do amigo do amigo que sofreu algo.

Assim como a guerra Irã x Iraque, a violência era à distância. E eu diria que ela poderia ser limada da vida da gente ao ficar alguns dias sem ver jornais. Diferente de hoje que a violência acontece descaradamente e assusta até quem não assiste TV.

Semana passada eu chegava aqui na Globalcomm e um colega, o Adriano, me encontrou no elevador (ele tava ofegante) dizendo que acabara de ver um caroneiro de uma moto disparar diversos tiros em um carro, ao lado dele, a uma quadra daqui, na esquina do Caixeiros Viajantes, na rua Dona Laura. Contou que o trânsito ficou maluco, carros passaram por cima da calçada, deu um engarrafamento chato que fez a Martina se atrasar e... o dia continuou. Em horas o fato tinha sido digerido e eu nem pensava mais nele. Penso agora de novo e descubro que isso não sai da cabeça da gente, não. Fica tudo acumulado e incomodando, batendo, esperneando, como se dissesse pra eu não aceitar, lutar contra, ou fugir. Assim como volta a minha memória que o meu apartamento foi arrombado, levaram jóias e meu powerbook e segunda-feira levaram o rádio do meu carro, que tava com a Carolina.

Enfim, o Brasil tá foda. Tá impossível. O meu otimismo está acabando, minha crença de que era possível mudar, de que, se tivéssemos os governantes certos a coisa engrenava, a mesma crenca que me fazia ser político a ponto de puxar passeatas em Ijuí, de bater ponto no comitê de campanha do Mario Covas, essa força otimista de acreditar que se você fizer certo vai dar certo, tá perdendo.

Viver aqui dá uma sensação de erro, algo como uma mensagem de alerta de computador antes do programa realizar um erro fatal e fechar.

Wednesday, July 12, 2006

Bia Falcão ensina a viver no Brasil.

Ontem fui consultado, em um grupo do qual faço parte, a dar minha opinião sobre o envolvimento desse grupo em uma ação proposta por uma empresa que tem a sua frente um cara que, no passado médio, fez o que eu chamaria de falcatrua intelectual. Esse cara apresentou em entrevistas de emprego, onde ele buscava uma vaga na direção de arte de agências aqui de POA, duas peças publicitárias minhas e algumas outras peças de outros profissionas conhecidos meus, como sendo criadas por ele. Ou seja, ele se apropriou indevidamente do meu trabalho intelectual e quis ganhar vantagens (um emprego) com o esforço que não foi dele. Agora ele propõe uma acão muito interessante de parceria com esse grupo que faço parte, e estamos tentados a aceitar essa ação, mediante a boa premiação que é oferecida.

Então ficou uma questão ética no ar. Aceitar a boa proposta e esquecer o passado? Não aceitar como veredito de um julgamento? Conversar com a pessoa e esclarecer o fato do passado antes de tomar a decisão?

Apesar da lógica me levar à última opção, algo me diz que o fato de viver no Brasil não permite tal coisa. Me parece que a falta de conceitos básicos de ética, a falta de memória coletiva, a completa falta de punições, o quadro caótico que vivemos, tudo isso e muito mais me faz ser previdente e não acreditar na versão, nem sequer na acariação olho-no-olhoi. Me faz sentir a necessidade de avaliar exclusivamente o fato, sumariamente.

Afinal, existe a máxima consagrada na última semana por uma brasileiríssima:

"A VERDADE É RELATIVA E TEM MUITOS FATOS. MUITOS FATOS.
TUDO DEPENDE COMO A HISTÓRIA É CONTADA"

O Brasil.

Hoje de manhã tomei café no Listo, ali na Padre Chagas. Sentei na mesa enquanto a Martina foi pedir dois farroupilhas e dois café-com-leite. Na mesa, a minha frente, tinha um grupo de quatro pessoas, uma delas muito falante, com uma voz estranhamente aguda, prendia a atenção dos outros três, e a minha por instantes. Acompanhei o papo por uns minutos até entender que os três eram jogadores de futebol, o que se tornou óbvio quando observei os trajes e os cortes de cabelo. E o outro, da voz esganiçada, juro que era o empresário. Vestia terno risca de giz e pregava um papo glamourizante sobre os três humildes. Coisas do tipo "agora que tu tá na calcada da fama tu vai ver o que é mulher bonita", "roupa!? ah... vocês não viram nada... semana que vem a gente passa na Conte Freire. Vocês nunca viram atendimento tão profissional. hahaha!", "tem uma joalheria em São Paulo especializada em cruz. Fazem de ouro, diamante, platina, sabe platina?" - "Platini, o francês, to ligado! - disse sorrindo o do cabelo desenhado. Todos gargalharam. Três deles em êxtase, com um anzol na boca.

Enfim, uma manhã qualquer nesse Brasil idolatrado.

Tomei meu café, comi meu farroupilha e fui fazer valer esse dia útil.

Tuesday, July 04, 2006

Talvez a internet seja o grande golpe do Lex Luthor.



Isso é o que diz Mark Friedman, uma americano qualquer que vive em Talahasse, FL. Diz ele que o onze de setembro que o mundo viu há 5 anos mostrou que a realidade pode ser mais cruel e suspreendente do que a ficção. E que em breve nos surpreenderemos novamente com algo tão grandioso no mundo virtual. Mark diz que acontecerá uma espécie de bug do milênio programado que vai desestruturar o mundo em proporções catastróficas. A internet, segundo o cara, que é um estudante da Florida State University, está ganhando confiança crescente de empresas e público em geral a ponto de todos confiarem aos seus servidores informações vitais, tanto para a estabilidade do sistema financeiro, jurídico, quanto para questões de estabilidade emocional ligadas a dependência do mundo virtual. Diz que tal profundidade de envolvimento está sendo monitorada e que no momento certo será iniciado um processo de destruição do sistema em etapas calculadas para não ser percebido como um grande golpe até que o mundo perceba que não há mais possibilidade de retorno. Nesse momento haverá uma ação direta ao sistema bancário que fará todas as contas serem redistribuidas igualitariamente. E, sem nenhum tipo de comunicacão depentente de sistemas digitais, sem registros jurídicos, sem formas de realizar uma coordenação global, pouca coisa poderá ser feita para reestabelecer a ordem atual.

Monday, July 03, 2006

Cada time tem a propaganda que merece.



Bendito sea el mundial con que soñamos
Bendito cada nombre que ha sido designado
Bendito los pibes que siempre sacamos
El peso de la historia, el respeto ganado
Maldito sean los recuerdos dolorosos
Maldita la impotencia, la injusticia que vivimos
El volvernos a casa cada uno por su lado
Las finales sin jugar y quedarme en el camino
Bendita la anestesia general a los dolores
La tristeza que curamos con abrazos
Las gargantas que se rompen por los goles
El sentirnos los mejores por un rato
Malditos los sorteos y los grupos de la muerte
Los controles sin azar que asignaron nuestra suerte
Malditos los mezquinos que juegan sin poesía
Los que pegan, los que envidian, los que rompen y lastiman
Bendito sea el orgullo con el que entramos a la cancha
El potrero y la pelota no se machan
La TV que repite la gambeta
Inflar las redes de los otros, inflar el pecho de los nuestros
Merecer la camiseta
Los turistas, los cronistas, los sponsors, los amigos, el himno
y las mujeres siguiendo los partidos
Bendita las cabalas que dan resultado
Las risas y el llanto que guardaremos tanto
Y bendito ese momento que nos regala el fútbol
De poder cambiar nuestro destino
Y sentir otra vez y frente al mundo
LO GLORIOSO Y LO GROSO DE SER ARGENTINO!!!

Quilmes. Del lado del corazon.

A incrível mentira que perdeu a Copa.

Eu, que não acompanho futebol, que não jogo nem playstation, que não sei bem a diferença entre Barcelona, Arsenal e Real Madrid, vi há 7 meses, o impossível acontecer nos pés do craque Ronaldinho Gaúcho. Ele calçou uma chuteira e engatou uma série de embaixadas com domínio de bola que o mundo não imaginava ser possível. Conduziu a bola com malabarismos perfeitos e chutou para o gol, a bola voltou nos seus pés e ele chutou de novo e o mesmo aconteceu mais 3 vezes. E a bola não caiu nenhuma vez, esteve sob controle do craque como um animal domado a chicote num circo. Incrível.

Só que aquilo que meus olhos viram era de mentira. O controle da bola não era proporcionado pelo sorridente Ronaldinho Gaúcho. Óbvio! Dããã! Como uma cara, mesmo que o melhor jogador do mundo, poderia fazer aquilo...? Teria que ser muito preciso, milimetricamente preciso, pra cada um dos chutes acertar o travessão e voltar exatamente nele... é certamente impossível. Aceitei isso, mas meu subcérebro guardou direitinho aquelas imagens. Descobrimos então que era uma estratégia de marketing viral para lançamento da chuteira Nike 10 Tiempo Air Legend. Enfim, era mais uma brilhante campanha fora de moldes que a Nike fez pra potencializar seus investimentos com seus patrocinados. O ganho de mídia que eles tiveram foi altíssimo, teve materia sobre isso na maioria dos noticiários e jornais do mundo. O assunto ganhou os olhos do povo e hoje é difícil encontrar alguém que não tenha visto o craque da Nike fazendo aquele show com a bola. Continua.
Então, pouco mais de um mês depois, antes da copa começar, surge uma campanha mundialmente chamada "Joga Bonito". O ex-craque Eric Cantona fala sobre a arte de jogar futebol com beleza, mostra belas jogadas de craques brasileiros, mostra o jovem Ronaldo Assis mostrando a sua arte ainda criança num jogo de colégio. Faz um chamado para o mundo não ficar satisfeito de ver vitórias magras, times retrancados, faltas, anti-jogo. E, para os jogadores, pede dedicação pra manterem o futebol um esporte bonito. Isso tudo usando um termo em português brasileiro como síntese, o que fez o reflexo positivo todo da campanha se voltar pro Brasil. Deu orgulho, muito orgulho de ser da mesma pátria desses deuses da bola. Foi um grande sucesso.
Mas aí veio a copa e estragou tudo. Enquanto o desatre se formava o meu subcérebro me mandava constantemente a imagem do Ronaldinho acertando a trave 4 vezes e dominando com perfeição. E por mais que eu visse apenas mediocridade no jogo daqueles 11 brasileiros, a imagem voltava e me dizia que ele era o melhor do mundo e que a qualquer instante a força tomaria o seu corpo e ele faria um gol com o carimbo "joga bonito. E que o Kaká ia corresponder, que o Cicinho ia entrar (meu deus, nunca tinha ouvido falar nesse nome e já depositava nele a minha felicidade) e que o Robinho, que o Juninho Pernambucano... acreditei neles todos. Até no Galvão Bueno e no Casagrande eu acreditei. Mas não deu. Antes tivesse tido uma guerra pra adiar os jogos, um tsunami invadindo a europa, furacões, chernobil, atentados terroristas... pra gente não ver a queda dos deuses, pra não quebrar a expectativa implantada na minha cabeça. Queda ridícula, patética, vergonhosa. Fui enganado. E espero, do fundo do meu coração brasileiro, que a Nike, o Parreira, o Galvão e o que resta do Zagalo se fodam. E o futebol também, esse esporte murrinha.