Erro fatal
A violência não fazia parte tão presente da vida da gente. Era mais coisa pra se ver do que pra sentir. Quando criança eu via a guerra Irã x Iraque na TV e pensava como aquele povo poderia viver no meio de tanta loucura e decadência. Soube depois - ou ao menos passei a acreditar - que as imagens que apareciam na TV eram pinçadas dos momentos de maior violência, eram fatias quase enganosas da realidade daquele país. Porque depois vi documentários que mostravam iranianos e iraquianos (cada um no seu país) indo a escola, ao escritório, fazendo compras, vivendo a vida normalmente, no mesmo território onde se via violência terrível. Foi estranho concluir que realidades distintas compartilhavam do mesmo espaço. Causou estranheza ver crianças com metralhadoras na mão, prédios cravejados, automóveis em chama e saber que nesse mesmo espaco tinha gente como a gente numa vida quase normal. De qualquer forma, isso era violencia pra mim. Uma coisa distante.
Por aqui o que me assustava era ter o meu Casio roubado na esquina da Fernandes Vieira com a Vasco da Gama, na volta do Rosário. Antes disso eu morava em Ijuí e nada me assustava. Bem, o bebê de rosemary me apavorava. Depois comecei a ouvir falar de sequestro, estupro, assalto com reféns, e um monte de outros crimes foram surgindo e se tornando mais presentes na mídia. Porém essa violência tava dentro da tela da TV e nos jornais, nos livros Olga e Brasil Nunca Mais e talvez no relato de um amigo do amigo do amigo que sofreu algo.
Assim como a guerra Irã x Iraque, a violência era à distância. E eu diria que ela poderia ser limada da vida da gente ao ficar alguns dias sem ver jornais. Diferente de hoje que a violência acontece descaradamente e assusta até quem não assiste TV.
Semana passada eu chegava aqui na Globalcomm e um colega, o Adriano, me encontrou no elevador (ele tava ofegante) dizendo que acabara de ver um caroneiro de uma moto disparar diversos tiros em um carro, ao lado dele, a uma quadra daqui, na esquina do Caixeiros Viajantes, na rua Dona Laura. Contou que o trânsito ficou maluco, carros passaram por cima da calçada, deu um engarrafamento chato que fez a Martina se atrasar e... o dia continuou. Em horas o fato tinha sido digerido e eu nem pensava mais nele. Penso agora de novo e descubro que isso não sai da cabeça da gente, não. Fica tudo acumulado e incomodando, batendo, esperneando, como se dissesse pra eu não aceitar, lutar contra, ou fugir. Assim como volta a minha memória que o meu apartamento foi arrombado, levaram jóias e meu powerbook e segunda-feira levaram o rádio do meu carro, que tava com a Carolina.
Enfim, o Brasil tá foda. Tá impossível. O meu otimismo está acabando, minha crença de que era possível mudar, de que, se tivéssemos os governantes certos a coisa engrenava, a mesma crenca que me fazia ser político a ponto de puxar passeatas em Ijuí, de bater ponto no comitê de campanha do Mario Covas, essa força otimista de acreditar que se você fizer certo vai dar certo, tá perdendo.
Viver aqui dá uma sensação de erro, algo como uma mensagem de alerta de computador antes do programa realizar um erro fatal e fechar.
2 comments:
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