Quero ser um incendiario capaz de controlar o proprio fogo.
Gostei desse texto que encontrei em uma das minhas comunidades do orkut.
"Dizem que jovem não lê. Desconsideradas as horas que passa fazendo isso diante do computador, aceitemos que é verdade. Cabe perguntar, no entanto, se existem mesmo tantos livros essenciais à juventude, com seus sonhos, loucuras e tormentos. Muita gente procura fabricá-los, mas de maneira tão calculada que dificilmente falam à alma, ao coração. Essa era uma especialidade do francês Albert Camus (1913-1960), prêmio Nobel de Literatura de 1957. Camus não foi um grande pensador, como às vezes sugerem que ele tenha sido. Mas foi um inigualável autor para jovens, por representar como ninguém as mais belas características da juventude: a pureza dos ideais e a paixão por plantá-los no mundo real.
Um provérbio cínico diz que todo homem é um incendiário na juventude e bombeiro na vida adulta. Camus foi um incendiário pela vida inteira. Nascido pobre na Argélia ainda francesa, Camus só não foi operário, como o irmão, porque conseguiu bolsas de estudo. Formado em filosofia em Argel, a tuberculose o impediu de seguir carreira universitária e comprometeu seus sonhos épicos: ele não pegou em armas na guerra civil da Espanha, na II Guerra, nem na Resistência aos nazistas. Participou desses eventos em missões civis ou como jornalista. E até o fim da vida, amargando a hostilidade de antigos amigos, nunca arredou pé de sua crença na liberdade do homem.
Muita coisa mudou de lá para cá, está claro. A URSS virou uma referência histórica tão remota quanto o império austro-hungáro, e maoístas apostam no libre mercado. Contra esse pano de fundo, parece intrasponível a distância que nos separa do tempo em que Camus se dilacerava pregando seu humanismo sem Deus, tentando ser gauche sem rezar pelo catecismo soviético e defendendo igualmente árabes e franceses da Argélia, contra direita e esquerda que preferiam resolver o problema com bombas e atentados (...) Mas nada consegue abafar Camus, sua aura de herói atormentado, sua paixão pelo jornalismo, pelo teatro e pelas mulheres, sua coragem de pagar o preço por "estar certo antes do tempo".
Mirian Paglia Costa
Veja, 18 de novembro de 1998"
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