Friday, September 01, 2006

Rascunho de teoria econômica que quando for aplicada mudará os noticiários.

A gente ganha uns hábitos durante a vida. Um dos que eu ganhei foi ouvir políticos na TV e comentarista econômico. Por algum motivo eu gosto da raiva que dá ver falcatruas e bobagens (nessa ordem) serem defendidas com retórica bem aplicada. Sinto um borbulhar sanguíneo movido pela incredulidade de estar ouvindo bobagens transvestidas de certeza.

Sobre a taxa de juros, por exemplo.

A notícia que mais virou paisagem no Brasil é a elevação ou redução da taxa de juros. É tão presente quanto as variações climáticas e tem posição mais destacada, até, no quadro. Vejo e ouço explicações incríveis, muitíssimo elaboradas. E sinto muito raiva. O principal motivo é que todos falam do juros como algo matematicamente explicável, tipo uns números que teimam em não obedecer. Fulano vai lá e diz que não poderá baixar a taxa de juros mediante a ameaça de uma subida do juros americanos. Ou que a entrada de capitais ficará ameaçada se a taxa baixar mais do que 0,5%. Ou que o México puxou uma nova alta. Muita raiva! Eu queria que eles explicassem ou me dissessem algo mais FUNDAMENTAL. Tipo, por que a taxa do Brasil é a maior do mundo?

Esses dias, ao fone, perguntei isso pra um amigo meu que filosofa bastante e ele me explicou. Tento transcrever aqui parte da conversa:

"O problema do juros é de linguagem. O Brasileiro não sabe o que juros significa, por isso ataca os problemas errados. Juros em inglês é interest. Na tradução óbvia, significa interesse. E se você pensar na lógica econômica verá que as medidas todas que os economistas e políticos discutem são apenas formas de comprar o interesse do capital internacional. O governo aumenta a taxa de juros pra que o aluguel do dinheiro deles valha mais e por isso eles se interessam em colocar dinheiro na nossa economia. Mas o governo todinho esquece de pensar de forma mais ampla, que seria criar mais condições para que investimentons produtivos, no país, dêem certo. Pra isso teriam que alterar muito mais do que taxas e índices econômicos. Seria alterar inclusive coisas culturais."

Meio viagem, achei.

"Por exemplo, não faz sentido ter política governamental pra endividar a população. A que existe no Brasil dé espaço pra empobrecer muito a classe média e média baixa. No Brasil você vai numa loja e não vê o preço de um item anunciado e sim o valor da parcela, que pode ser de 5, 8, 12, 24, 36 vezes... Você vê uma TV de Plasma de 34 polegadas que você pode comprar por 36 vezes de 500 reais. Isso é uma lógica maluca, de endividamento, de atirar o problema pra frente e receber ele lá na frente com mais peso. É ruim. E ruim é que a sociedade toda aceita isso e até acha que isso é uma vantagem."

Pois é.

"Olha só: quem é o principal patrocinador do Programa do Faustão? É o Fininvest. Eles vendem a lógica do dinheiro fácil pra pessoas que tão precisando. E quem precisa, pega o empréstimo fácil-fácil, mas depois se estrepa pra pagar. E ainda leva pra dívida os avalistas. E assim vai. O Brasil virou uma sociedade endividada, que tá sempre correndo atrás, enquanto deveria ser uma sociedade com poupança. Se tivesse poupança o juros alto até seria positivo, mas aí ele não seria necessário."

Auhmm... Não me deu raiva. Será que faz sentido? Desligamos o fone com cordialidades. Então decidi assistir ao horário político. Mas aí liguei a TV e o Lula tava esclarecendo ao brasileiro que não se pode avaliar o crescimento de 0,5 do PIB como baixo... pois tem que se avaliar essas coisas de forma menos fria do que números e gráficos econômicos... o prazer, aquela raiva contida, aquele borbulhar interno se espalhou novamente no meu corpo.

2 comments:

Anonymous said...

Adorei o post.
Todas criancas deveriam aprender economia basica nas escolas. quem sabe dai o pais ia pra frente. =)
Nani

Anonymous said...

Também acho!