Monday, May 14, 2007

História 1 - Limite Territorial

Pousei em Cape Town às dezessete. Às dezessete e trinta já tava no hotel Fountains. Às dezoito atravessei o lobi, observei a rua, a luz minguante de fim de dia e uma fonte no centro de uma rotatória. Avancei até a porta de vidro e dei três passos na calçada. Em quinze segundos três adolescentes me cercaram e proferiram palavras aparentemente ofensivas em língua xhosa. Dois deles circularam ao meu redor e um deles colocou a cabeça no meu peito como carneiro faz para enfrentar outro macho. Durou quatro segundos o ataque sem vítimas, que me desvencilhei dando três passos para trás. Observei os três seres humanos correndo na rua, saltando alegres, proferindo gritos de alegria hormonal descontrolada.

Sobre a África.

Foi ótimo. Tem fotos no flickr

Tuesday, April 17, 2007

minhas férias

Na volta vou fazer a redação.

Por enquanto só a expectativa de ver a união do atlântico com o índico, do kilt com a madiba e de mim mesmo com myself. Oba!

Thursday, March 15, 2007

Pra um dia inscrever num concurso de minicontos.

Sonhei que eu era um cinto feito de um composto sintético moldável muito versátil. Eu andava pela rua e ganhava apetrechos e cores diferentes. Quando tocou o despertador eu me dei conta que tava dormindo e mimetizei no lençol. Do ponto de vista do lençol eu me vi acordando.

Tuesday, March 13, 2007

BIODIESEL


Ninguém vai confirmar ainda, mas há uma grande movimentação em torno de uma das maiores fashion brands do mundo. A incensada DIESEL vai mudar de nome. Gradualmente, no mesmo ritmo da transição da matriz energética do mundo, a marca passará a se chamar BIODIESEL.
A decisão foi tomada considerando 357 fatores, porém um deles se destaca na pesquisa por apontar uma migração de postura em relação ao mundo e as coisas. Mark Krostein, diretor mundial da Diesel Branding comenta que "o gerador da nossa decisão foi a constatação de que o niilismo está saindo de moda e não podemos mais manter a postura passiva em relação a sobrevivência na terra". Jehn Carson complementa que apesar de ser "uma questão aparentemente de pouca importância, o niilismo era o que sustentava a postura cool da nossa marca, mas agora estamos buscando estar mais engajados para fazer a nossa parte".
Jacob Charnier, chairman do grupo, não confirma nenhuma das informações.

Friday, March 02, 2007

Uma verdade conveniente.

A verdade é uma entidade muito afudê. Tenho medo e amo ela. Sofro em saber coisas e sofro por não saber. Ela é fulminante e tem efeito cadeia. Gosto de me relacionar com ela porque ela não trai. Ela tá na essência do amor e da ética.

As vezes penso que a verdade é parte da natureza mas tem data de validade nos humanos. As crianças são verdadeiras até saberem que algumas verdades não podem ser ditas, então passam a criar formas de dar voltas nela pra conseguir o que querem. E surgem diversos tipos de mentiras. Algumas são condenadas e outras são aceitas. Disciplinas existem pra identificar o que pode e o que não pode, que tipo de verdade pode ser escondida e que tipo tem que ser usada. E que tipo de mentira é proibida e que tipo é aceita. Nos últimos tempos vi declarações e indícios de que o mundo tá aceitando muito mais mentiras do que no passado. Exemplos políticos mostram isso, questões de honra também.

Enxergo um movimento mundial que vai para a mentira. E um outro movimento mais novo que vai pra verdade. E acho que tem pouca gente que se lembra como é pensar com a ótica da verdade. E menos gente ainda que sabe pensar com a verdade sem ser ingênuo.

Thursday, February 15, 2007

Quero ser um incendiario capaz de controlar o proprio fogo.

Gostei desse texto que encontrei em uma das minhas comunidades do orkut.

"Dizem que jovem não lê. Desconsideradas as horas que passa fazendo isso diante do computador, aceitemos que é verdade. Cabe perguntar, no entanto, se existem mesmo tantos livros essenciais à juventude, com seus sonhos, loucuras e tormentos. Muita gente procura fabricá-los, mas de maneira tão calculada que dificilmente falam à alma, ao coração. Essa era uma especialidade do francês Albert Camus (1913-1960), prêmio Nobel de Literatura de 1957. Camus não foi um grande pensador, como às vezes sugerem que ele tenha sido. Mas foi um inigualável autor para jovens, por representar como ninguém as mais belas características da juventude: a pureza dos ideais e a paixão por plantá-los no mundo real.

Um provérbio cínico diz que todo homem é um incendiário na juventude e bombeiro na vida adulta. Camus foi um incendiário pela vida inteira. Nascido pobre na Argélia ainda francesa, Camus só não foi operário, como o irmão, porque conseguiu bolsas de estudo. Formado em filosofia em Argel, a tuberculose o impediu de seguir carreira universitária e comprometeu seus sonhos épicos: ele não pegou em armas na guerra civil da Espanha, na II Guerra, nem na Resistência aos nazistas. Participou desses eventos em missões civis ou como jornalista. E até o fim da vida, amargando a hostilidade de antigos amigos, nunca arredou pé de sua crença na liberdade do homem.

Muita coisa mudou de lá para cá, está claro. A URSS virou uma referência histórica tão remota quanto o império austro-hungáro, e maoístas apostam no libre mercado. Contra esse pano de fundo, parece intrasponível a distância que nos separa do tempo em que Camus se dilacerava pregando seu humanismo sem Deus, tentando ser gauche sem rezar pelo catecismo soviético e defendendo igualmente árabes e franceses da Argélia, contra direita e esquerda que preferiam resolver o problema com bombas e atentados (...) Mas nada consegue abafar Camus, sua aura de herói atormentado, sua paixão pelo jornalismo, pelo teatro e pelas mulheres, sua coragem de pagar o preço por "estar certo antes do tempo".

Mirian Paglia Costa
Veja, 18 de novembro de 1998"