Monday, July 31, 2006

Agora entendi

Eu não tinha entendido nada dessa crise entre Israel e Líbano. Li e vi todas as notícias, mas estranho é que nenhuma traz a causa... porém hoje recebi um email de um amigo de lá que me explicou dum jeito que deu pra entender.

É ele me escrevendo:

"O fato é que Israel ficou puta da vida que o governo do Líbano não teve força suficiente pra controlar as ações do Hezbolá nos últimos tempos. Em rápidíssimas palavras (não sei se tu sabe) o Hezbolá é um grupo armado parecido com o que o Hamas é para os Palestinos, e um tanto parecido também com o Al Qaeda, que tu sabe bem o que é. Pra tu entender, o Hezbolá surgiu em 1982 pra defender a fronteira do Líbano de uma invasão israelense. 18 anos depois Israel cedeu e saiu daquela faixa que chama Fazenda de Cheeba. Dali em diante o Hezbolá assumiu função coadjuvante no país, saiu da mídia, mas não deixou de fortalecer sua milícia e continuou em crescente popularidade (eles são algo parecido com o que seria o MST, se os inimigos deles fossem, digamos, ao invés dos agricultores brasleiros, os argentinos). Bom, agora, nos últimos meses o primeiro ministro-israelense começou a enfrentar um problema de difícil solução que acabou revelando-se causado pela ação de guerrilha do Hezbolá. É estranho até de dizer,... mas o que acontece é que o primeiro ministro é viciado em comida árabe e o Hezbolá descobriu isso. Então eles usaram suas táticas de guerrilha pra impedir que suprimentos de kibe, Homus, folhas de hortelã, cebola, azeite de oliva e queijo de cabra chegassem a residência do cara. Ele, o primeiro ministro interino (desde que a cabeça do Ariel Sharon vazou), que se chama Ehud Olmert, sofreu uma crise de abstinência de derivados de grão de bico, que afetou suas faculdades mentais. Mas como ele é bem poderoso por aqui, ninguém foi capaz de retrucar o cara. A não ser a Condoleeza Rice e o presidente Bush, que já declararam ser contra os ataques. Mas como não deu muito certo o pedido americano, eles resolveram envolver a ONU na jogada, que prontamente providenciou a chegada de diversos aviões carregados de kibe cru, kibe frito pré-pronto, Homus, rolinho de repolho recheado com carne e bolinho de semolina com calda de flor de laranjeira. E por aí tá seguindo as negociações de paz.

Enfim, cara, essas crises diplomáticas, só estando bem perto pra entender... :("

Thursday, July 27, 2006

Um título qualquer pra marcar a presença de um ótimo texto anti hipsteria

Aimee Plumley é uma new yorker que odeia os pós-modernos-
bem-vestidos-instruidos-seguidores-de-uma-sub-cultura-original. Esse texto é um clássico dela (ela é o pseudônimo de Brian, um escritor de 25 anos) que exemplifica uma das coisas que incomoda no contato com modernos pretensiosos.

MAKING MUSIC MORE COMPLICATED THAN IT IS - A ROOFTOP SOMEWHERE IN GREENPOINT

John, 25, is a classical musician. Billy, whom John and I just met, is a hipster and a self-described 'musicologist.' John, a violinist, was educated at Juliard. I rarely ever get a chance to see him, but he happened to be free this night, and we happened to find ourselves at this house party, which was relatively hipster-free until we got to the roof. John's smart and handsome, but he's definitely not a hipster, and he doesn't like to tell people he's a violinist because he thinks it makes him seem dorky. Billy turns to us, his feeble little mop-head swinging languidly on his pale Midwestern neck, and slurps from his beercan. "You guys listen to music?" The tone is one of classic hipster faux-nonchalance, think James Dean thumbing his sideburns (gag), burping, smiling about something we don't know about, shaking his head. And this is chit-chat, this is back and forth, at least one would think so. But it's not, and I can already tell this isn't a question. This is a monologue; this is Billy's monologue, dressed up like a question. But John isn't a hipster. He doesn't have the pop culture burden that I have inexplicably gathered, one that allows me — that forces me — to differentiate between these 'types' of people. John's not cynical like me. Whereas I would have answered "No, I don't listen to music at all," John answers, enthused, "Yeah man, definitely!"
Billy's head swings again toward us, "Good, music's cool."
Billy's wearing a black T-shirt with a tear near the bottom, on the front it says "Dragons '86" in crumbling white silkscreen. He's wearing blue jeans and expensive diesel sneakers. He's got a 'tribal' tattoo on his right arm, which he's holding himself up with.
"Yeah, definitely," John says.
"So, what kinda music do you guys like?" Billy asks.
"Oh, I dunno," John says. "Rock I guess."
Billy sneers. He's getting warmed up.
"Cool man. Very cool," he says smiling. "So, ah, what kinda rock do you guys listen to?"
"Well, it's not just rock," John says. "I mean, I listen to all kinds of stuff. You know, a little of this, a little of that."
Billy switches arms. He's closing in on us, he's smiling.
"That's totally cool man, totally cool," Billy says.
"I guess so." John says, and looks at me, questioning. I shrug.
"So, like, what bands do you guys like?" Billy asks.
"Oh, uh, I like… well, hmm. I've been listening to all kinds of stuff lately. I like Radiohead."
Billy tries to look respectfully at John, but he can't. He's like dog taking a shit, once he's started, he can't stop. "Yeah, Kid A was alright," Billy says, his eyebrows raised in simulated empathy. "I mean, it was kind of a rip-off of Aphex Twin, but whatever."
"Um-hm," John says. But he's never heard of Aphex Twin, he's never heard of Kid A either, but he gathers it's some Radiohead song. "I dunno, I mostly hear them on the radio, so I don't really know any song names or anything. I like the guy's voice though."
"Oh yeah?" Billy asks. "Tom York, what a pud. I didn't know they put out any singles for that, since it was kind of avant. Fuck, I don’t listen to the radio, so I wouldn't know. I don't even have a TV."
"Oh yeah?" John asks.
"Yeah man," Billy says. "I'm kind of a musicologist."
"Oh, great!" John says. "So, uh, what kind of music do YOU listen to?"
"Shit man, I listen to everything. You guys listen to Emocore?"
"I dunno," John says. "What is that?"
"You ever hear of the Get Up Kids?"
"I don't know" John says.
"Oh, how about Death Cab For Cutie?"
"Nope." John says.
"Oh," Billy says. "Well, Emo is like, it's like Emotional, you know?"
"Like how do you mean?"
"Like, have you guys ever heard of Sunny Day Real Estate?"
"Don't think so," John says.
"Oh. Well Emo is like pretty hard stuff, with emotional lyrics."
"Oh." John says.
"Yeah, it's cool. You guys ever heard Jimmy Eat World?"
"I don't think so." John says.
"Shit man, what about At The Drive-In?"
"Nope" John says.
"Minor Threat?"
"Umm, I've heard of them."
"Embrace?"
"Nope."
"Hot Water Music?"
"No"
"Weezer?"
"Oh yeah!" John says. "Didn't they have that one video with the Happy Days thing?"
"I dunno." Billy says. "I don't watch TV."
"Oh yeah."
"Well, Emo is like pretty dynamic and shit. It's kinda like Indy rock, but it's more like Post-Punk, like Progressive and stuff."
"Hmm." John says.
"What about Rites of Spring?"
"Nope." John says.
"Yeah," Billy says. "Weezer's like the most commercial of the Emo bands, they're new album kinda sucks."
"Oh yeah?"
"Totally."
"They got that dude from that one group, you know that 80s band, The Cars?"
"Yeah," John says. "The Cars."
"Well they got that singer to produce this album and it totally sucks."
"Oh, too bad." John says.
"Yeah, but they sold out anyhow."
"Oh." John says.
There's a break in the conversation now; the three of us stare up at the sky. Billy's looking contented and ready to continue educating us about music.
"So shit man, you should check out some Emo dude," Billy says. "I guess you don't listen to music much huh?"
"Yeah. Maybe." John says.
"So like, what do you do anyway?"
"Oh," says John. "I'm a professional musician."

Monday, July 24, 2006

Pra Não Dizer que Não Falei dos Hipsters ou A Cultura do Falso Desapego às Pequenas Conquistas da Vida ou A Nova Vaidade Mais Velha Que a Vó Odila

Uau. Os hipsters. Será que é cool falar desse assunto? Hmmm, acho que não muito, que alguns assuntos são parte do espiral do silêncio natural que se forma no círculo de afirmação social. Mas também acho que entender esse termo ajuda a entender grande parte da sub-cultura que a gente adora. E como a gente se relaciona com ela. E como a gente faz parte da massa sem se sentir nela. E que isso não é ruim, é bem normal até. E que o Humberto Eco deve ter alguma razão quando se preocupa com o futuro e a pulverização do conhecimento informal. Mas que a razão não é de todo preocupante. Porque esse termo parece um antídoto que funciona pra quem acredita que identificar um problema é a solução em si. Pois a partir disso podemos aplicar boas doses de auto-ironia.

(Acho também que é divertido enxergar problemas como um questão/caminho interessante de ser resolvida/percorrido e não como um fator causador de transtorno)

Ahhh, pra saber mais pergunta pro oráculo.

flash mob. uma "busca" pra comprovar a facilidade de levar uma galera a desindividualização.

Bill Wasik é o cara que inventou os flash mob. Foi ele quem criou a conta fictícia de um hotmail qualquer, enviou para a sua caixa postal e dali para seus contatos internéticos. Foi em NY, onde ele é editor da revista Harpers. Diz ele que a idéia foi realizar uma experiência pra provar a falta de consistência da cultura contemporânea e a força da internet na desindividualização. Imagino que ele enxergou um vazio e quis brincar de ter poder. Fato é que andou um email pra 60 da sua lista que acharam superlegal a idéia e repassaram para outros tantos. No horário marcado um grupo grande tava lá e também no horário marcado o mesmo grupo saiu. As pessoas que estavam desavisadas no local não entenderam nada. E os participantes acharam superdivertido. A falta de senso fez sentido pros presentes: o sentido de se sentirem parte de um grupo restrito, o grupo dos que sabiam onde seria aquele evento, o grupo que só tem acesso por mérito de fazer parte da lista do fulano. Divertido, o evento tomou o mundo. Era superlegal ficar sabendo em tempo de estar presente no acontecimento. Muitos flash mob foram puxados por fotógrafos que documentaram momentos interessantes de pessoas fazendo algo estranho, num local público, exatamente ao mesmo tempo, sem explicação, coisas do tipo: se ajoelhar em frente ao um grande dinossauro de brinquedo numa loja de departamentos e entoar um salve. A cara dos desavisados devia causar boas risadas. Uns caras começaram teorizar seriamente sobre a coisa. Surgiu artista plástico pacas chamando eventos falhados que se propunham ser parte de um estudo sobre a efemeridade na arte. Mas eles tavam atrasados, tentando apenas, já fora da bolha divertida que passou. Enquanto isso o Bill, imagino, olhava o acontecer da invenção com uma vontade enorme de revelar a autoria e ganhar alguma glória extra. Diz ele que manteve segredo absoluto até há pouco tempo, quando reinvindicou a autoria. Interessante o fato e a força dele guardar a informação por tanto tempo. E, ao revelar, ser reconhecido (pelo menos uma capa da Ilustrada da Folha de SP). Engraçado também é que se você procura por referências dele, todas dizem algo como: Biwasik, o cara que inventou o flash mob. Mais engracado ainda é que ele tá ganhando as glórias por algo que foi justamente pra comprovar a superficialidade da cultura.

Isso porém não é uma novidade. É algo comum na história - o uso das massas. Um grande feito, de um grupo compenetrado, puxado por um líder carismático, seguido de posterior revelação de um interesse individual transfigurado em interesse comunitário. Fora uma lista enorme de guerras, revoluções e conquistas, existe o exemplo moroso da política atual e dos movimentos sociais. Triste comparação diária nos noticiosos. Interessante e divertido é a prova do embasamento do inventor do flash mob: de que o fenômeno da desindividualização também atinge quem é cool.

Carta aberta a RBS

O Hagah não funciona. Ponto.

Thursday, July 20, 2006

A Igualdade dos Gêneros aplicada a Gentileza. Um estudo da evolução da sociedade com foco na observação do uso dos sanitários.

Existem algumas coisas que tão sendo muito mal interpretadas na evolução da mulher na sociedade. Ao mesmo tempo que elas ganham o espaço merecido (diga-se: igualmente merecido) em todas as áreas que antes eram reservas do homens, inclui-se aí os prazers e outras liberdades que antes eram reprimidas, elas estão fazendo uma coisa que o homem costuma fazer muito (e deve ser condenada) e que pode ser representada por um ditado popular: deu a mão agora quer o braço. Isso aplicado em coisas cotidianas. As gentilezas, por exemplo. Algumas estão virando regras. Veja bem, dizem quando você vai ao banheiro é absolutamente condenável deixar a borda do vaso sanitário levantada. Pergunto-me por que? E, por estar fazendo aqui uma análise comportamental, deixarei de lado as argumentacões em relação a higiene, até porque eu concordaria com todas. Vamos a um exemplo: uma mulher chega na casa de cinco homens, vai ao banheiro que está com a tampa e borda levantadas, ela baixa a borda, usa para fazer xixi e sai do banheiro deixando a borda baixa. Ela vai em direção a um dos moradores (o mais íntimo dela, imagino) e sugere, em tom de professora de etiqueta, que seria educado da parte deles deixarem a borda baixa. Wrong! Wrong! Wrong! querida madame, responde ele. Aqui somos todos homens, usamos o banheiro para xixi e para cocô, mas a proporção de xixi é 7 vezes maior do que a de cocô, o que indica que 87,5% do uso daquele vaso sanitário, considerando que temos pênis, deve ser feito com a tampa e borda levantadas e que, por isso, a preferência do grupo é de manter a tampa levantada e baixá-la apenas quando forem usar em posição sentada. Conclui-se então que a mulher reclamou um direito que não é seu. Que ela pediu para ter preferência em um espaço que ela poderia estar oferecendo a gentileza.

O homem poderia dizer a ela que, na próxima vez que ela vier a casa deles, ele vai fazer o possível para se lembrar da preferência dela a borda baixa. E que em todos os outros ambientes que ele compartilhar o banheiro com mulheres ele fará o mesmo. E que ele vai considerar isso uma gentileza sua e que ele vai esperar que ela faça também a gentileza de entrar no revezamento que vai permitir ao home e a mulher uma igualdade amigável de vezes que um se incomoda com o fato de levantar ou baixar a borda.

Wednesday, July 19, 2006

Sobre a boa sensação que é sonhar e a relação disso com a hora de acordar.

Já escrevi sobre isso lá no dia 28 de junho, mas deu vontade de pensar no assunto de novo depois que vi o filme da Folgers e os anúncios que lembram aquele raciocínio.

O sonho é uma sensação bem estranha que as vezes deixa a gente se perguntando por que coisas tão absurdamente diferentes se juntam. E ainda que o esforço racional insista em juntar o isso com o aquilo de forma a fazer sentido, as vezes não faz sentido algum. Ao menos no nível da compreensão que aceitamos. Então desisti de caçar significados e passei a apreciar o significante. Compreendi que quando a gente se desapega da vontade de compreender o sonho ele passa a ser um companheiro muito interessante. Algo como uma TV a cabo particular, um HBO só meu que passa só o que quero ver ou então o que eu não quero ver. Não existe programação irrelevante no sonho. Talvez por isso é tão bom dormir. E talvez por isso que tem dias que é mais difícil acordar. Nessas manhãs preguiçosas geralmente o sonho é bom, tão bom que a gente não quer sair dele. Aí é legal pensar em alguma coisa boa da vida real. Parece ser um antídoto contra o sono. É algo como dizer pra vc mesmo que já viu aquele filme e tá na hora de captar algo novo pra usar na edição da noite seguinte. E deixar os neurônios couch-potato ocupados com a ansiedade pela próxima programação. Tem uns sonhos, porém, que são incrivelmente difíceis de sair. Um em especial vem sempre pra mim. Na verdade são sonhos completamente diferentes mas em todos eles eu estou voando. Vô em saltos, não com asas. Algo como uma junção dos saltos do Karas (assitente do Dr Gori, inimigo do Spectreman) + homem na lua + O Homem do Fundo do Mar + minha aulas de natação subaquática do tio zú + um pouco de lógica física + a observacão dos animais rastejantes + flúidos se comportam como flúidos. Enfim, é tão bom esse sonho. Nesses dias eu chego tarde no trabalho.